Os juros do cartão de crédito atingiram em abril a maior taxa média desde março de 1999, segundo pesquisa divulgada ontem pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Chegaram agora a 12,14% ao mês, o que é 0,12 ponto percentual mais em relação ao cobrado (12,02%) em março.
Parece pouco? No ano são 295,48%. Para exemplificar o que isso significa ao consumidor, quem esqueceu de pagar R$ 100 no cartão há cinco anos, hoje está com dívida de R$ 89.759,69 (levando em conta taxa mensal de 12% durante todo esse período), dinheiro que daria para comprar um carro de luxo. O rombo também é expressivo se a pessoa entrou no limite do cheque especial com R$ 100 em 11 de maio de 2010. Se não saldou esse valor até hoje, estaria neste mês com débito acumulado de R$ 17.603,13 (para juros mensais estimados de 9%, durante os cinco anos), valor que daria para comprar um carro usado. Esta última modalidade de crédito também vem subindo. Alcançou 9,74% mensal em abril (anual de 205,06%), a maior taxa desde junho de 2003.
Ainda para efeito de comparação, o poupador que colocou R$ 100 na caderneta no dia 11 de maio de 2010 e não mexeu nessa aplicação, hoje teria R$ 139,67, o que daria para comprar um pneu. Para chegar a esse cálculo, basta acessar a ‘calculadora do cidadão’, no site do Banco Central (http://www.bcb.gov.br/?CALCULADORA), clicar em ‘correção de valores’ e, depois, no item ‘poupança’.
TENDÊNCIA - Para o presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, três fatores contribuem para a alta dos juros do cartão de crédito e do cheque especial: os aumentos seguidos da Selic (a taxa básica da economia, que é usada em empréstimos entre os bancos e para aplicações em títulos públicos), que atualmente está em 13,25% ao ano (0,95% ao mês); a expectativa dos bancos de que a Selic continue subindo; e, por fim, o cenário da economia, em que o desemprego está crescendo e ampliando o risco de calote nos financiamentos. Oliveira avalia que a tendência das taxas é que continuem subindo, por causa da situação econômica, e cita que o percentual de inadimplentes (com atrasos de mais de 90 dias) no cartão é alto: atualmente está em 34,5%.
“O risco do País aumentou e os bancos procuram ser mais seletivos na hora de emprestar”, afirma o professor Samy Dana, de EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), que também vê perspectiva de expansão nos juros na ponta, ao consumidor.
“A perspectiva é de alta, porque a inflação já está em 8%”, disse o delegado do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia no Estado de São Paulo) no Grande ABC, Leonel Tinoco. Ele lembra que o governo usa a Selic como instrumento para conter o consumo e, dessa forma, reduzir a taxa inflacionária.
ORIENTAÇÃO - Em relação ao cartão de crédito, Tinoco considera que a taxa é um absurdo. Ele aconselha quem está com dificuldade de pagar o valor da fatura total do cartão a buscar as instituições financeiras para renegociar e trocar essa dívida por outras mais baratas. O empréstimo pessoal dos bancos atualmente tem taxa média de 4% ao mês. “Ainda é caro, mas é mais vantajoso”, observa. É a maior taxa desde dezembro de 2011.
Dana também considera que a modalidade é proibitiva. “O rotativo do cartão (valor entre o mínimo e o total da fatura) é suicídio financeiro”, diz. Os 12% de juros pagos em um mês levariam dois anos de investimento – na poupança, por exemplo –, para serem obtidos como rendimento, assinala o especialista.
Outra simulação, também na ‘calculadora financeira’, do site do Banco Central, mostra que uma pessoa que deve R$ 100 no plástico, e só puder pagar R$ 15 por mês, vai demorar 11 meses para saldar o débito, e terá pago R$ 169 ao final desse período (ao juros de 12% ao mês).
Outra simulação, também na ‘calculadora financeira’, do site do Banco Central, mostra que uma pessoa que deve R$ 100 no plástico, e só puder pagar R$ 15 por mês, vai demorar 11 meses para saldar o débito, e terá pago R$ 169 ao final desse período (ao juros de 12% ao mês).
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